Nasceu em Agosto de 1970. Em 2001 publicou a sua primeira obra Livro da Dança. Entre os seus romances mais recentes contam-se Um Homem: Klaus Klump (2003) e A Máquina de Joseph Walser (2004). Várias das suas obras têm sido premiadas e traduzidas. Está representado em antologias de poesia publicadas na Holanda e na Bélgica, e editado em revistas inglesas e americanas. O seu livro Jerusalém recebeu o prémio do Círculo de Leitores.
Registo de um momento
Sobre cidadão empolgados
a infância exerce ainda a sua força;
não se trata de um museu individual, .
a memória é algo mais:
depende do modo como os outros batem
no piano desafinado
fingindo ser música o que é, afinal,
um ataque nocturno.
(Tavares 2004, 81)
'1' é uma antologia de oito pequenos livros bem distintos entre si. Destacam-se alguns poemas de 'Observações' que foram publicados em antologias de poesia na Holanda (Hotel Parnassus, Poetry International 2002) e na Bélgica e ainda em revistas inglesas. Os poemas de 'Autobiografia' foram publicados no "Jornal de Letras" e os poemas 'Homenagem' na crónica "A bicicleta" de "A Capital" e, depois, na "Storm Magazine".
Nasceu em 1974 em Portalegre. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Vencedor do Prémio Jovens Criadores do Instituto Português da Juventude nos anos de 1998 e 2000. Em Outubro de 2000 publicou, na Temas e Debates, o seu primeiro romance, Nenhum Olhar, que lhe valeu de imediato um largo reconhecimento da crítica, plenamente confirmado com o facto de ter vencido, no ano seguinte o Prémio José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores, e foi considerado finalista para a atribuição de dois dos mais importantes prémios literários desse mesmo ano: o Grande Prémio de Romance e Novela da APE e o Prémio do Pen Club. Em fevereiro de 2013, o seu livro Criança em Ruínas foi distinguido com o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para o melhor livro de poesia.
no papel, as palavras escondidas, as nuvens.
dizes não posso ser o mundo hoje, esqueces que
tu és o mundo. dizes não posso, e eu gostava que
soubesses sempre que um lamento dentro de mim
te repete. abro o papel dobrado e abro noite
no céu. as árvores são distantes, as palavras...
(Peixoto 2001, 79)
A obra 'A Criança em Ruínas' reúne vários poemas de diferentes fases da vida do autor. A melancolia, os cenários de dor, os problemas existenciais e as inquietações estão presentes na maioria dos textos.
Nasceu em 1977 em Vila Nova de Famalicão. Frequentou, entre 1994 e 2000, os cursos de Astronomia e Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e estagiou no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto onde estudou genética populacional, interrompendo a formação académica para se tornar editor. Editou seis livros de poemas, os últimos dos quais Biologia do Homem, Livro de Estimação e Vou para Casa e cinco de narrativa, entre os quais Por Ser Preciso, vencedor do Prémio Manuel Maria Barbosa du Bocage. Organizou diversas antologias, entre as quais Anos 90 e Agora - Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa.
Era uma vez
era uma vez
um poeta
era uma vez uma casa, era
uma vez um inverno, um sorriso
uma cidade
um grito uma palavra, um gesto
e depois...
(Sá e Costa 2000, 67)
Os poemas, breves, são legendas dos magníficos quadros de Luís Noronha da Costa (Prémio Europeu de Pintura, 1999). Com eles, e só com eles sobrevivem. A segunda edição de 'Quase e outros poemas de querença' é uma edição cuidada com reproduções das obras do pintor e dois livros inéditos de poesia.
Nasceu em Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, atualmente, vive em Vila do Conde. É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004). Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.
o conjunto de todos os
nomes é o nome de
deus, enumeramos o diabo
e as suas questões como
dobra do nosso pecado, e não
desperdiçamos palavra alguma,
somos os mais silenciosos
súbditos, uma oferenda
débil como um peixe
ainda turvo fora de água
(Mãe 2002, 12)
"Estamos perante uma obra composta por duas partes articuladas num longo e único poema. A estrutura narrativa da primeira, gerada pela contiguidade de breves incisões líricas, suporta uma epopeia do mal e do horror que acaba por se reconverter, na segunda parte, em melancólica meditação moral sobre a existência e o espetáculo da crueldade." (Luís Adriano Carlos)
Nasceu na cidade do Porto em 1975. Publicou os livros de poesia Antigo e Primeiro, Berçário, Revólver e Corvo. Traduziu Paul Auster (Poemas Escolhidos), Pablo Neruda (Crepusculário), e Samuel Beckett (Mal Visto Mal Dito), entre outros. Ensaísta e crítico literário, é ainda autor de teatro (Não há mais que nascer e morrer) e de literatura para a infância. Está representado em diversas antologias de poesia. Fundou e dirigiu, entre 1998 e 2004, a revista de literatura, música e artes visuais Águas-Furtadas, editada pelo Jornal Universitário do Porto. Encontra-se a ultimar a sua tese de doutoramento em Literaturas Românicas, Perda, Luto e Desengano: a Elegia na Poesia Portuguesa do Século XX na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde se licenciou em Estudos Portugueses e Ingleses.
Valquírias
Escolhida por entre as falanges do lago
a luz
guarda para si a melhor parte do silêncio.
Deslizam da sombra das magnólias
como peixes traçando uma perdida
e perfeita linguagem...
(Lage 2004, 52)
'Berçário' é um livro infixável: um movimento constante, do natural para o interior, da verdade da terra para a natureza do espírito, oscila-o. Não é uma poesia de sondagem interior, nem de imitação do real: se algum princípio de imitação da realidade vive neste livro, é o de reaprender-se perante os símbolos naturais.
Poeta português, nasceu em 1972 na cidade de Lisboa. Após ter concluído os seus estudos secundários, ingressou no curso de Direito da Universidade Católica Portuguesa, que completou com sucesso. Prosseguiu para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de onde arrebatou um mestrado em Estudos Americanos. Passou depois a colaborar com publicações como o Diário de Notícias, na qualidade de crítico literário, e a escrever artigos para a revista Grande Reportagem, vendida em conjunto com jornais como o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias. Debruçou-se entretanto para a poesia, estreando-se em 1998 na revista Colóquio. No ano seguinte publicou o seu primeiro livro, uma colectânea de poemas intitulada Duplo Império (1999). Seguiram-se Em Memória (2000), Avalanche (2001) e Eliot e Outras Observações (2003).
As gavetas
Não deves abrir as gavetas fechadas
por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora a chave
um acaso que podes ignorar.
Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel,
fotografias, objectos.
(Mexia 2011, 7)
Em 'Menos por Menos - Poemas Escolhidos', uma antologia pessoal, Pedro Mexia oferece-nos uma selecção de poemas retirados dos seus seis livros de poesia escritos entre 1999 e 2007. 100 poemas que traduzem o que de melhor existe na obra de um dos mais conceituados autores da nova geração da poesia portuguesa contemporânea.
Nasceu em Baltar em 1971. Frequentou o curso de Teologia na Universidade Católica Portuguesa (Porto), tendo defendido a tese de licenciatura em 1996. No Seminário e na Faculdade de Teologia criou gosto por entender a poesia e dialogar com a expressão contemporânea. Licenciou-se em Estudos Portugueses na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Durante esse período (1994 - 1998) a opção monástica criava solidez. A partir de 1990, e durante vários anos, esteve ligado paróquia de Santa Marinha de Fornos, Marco de Canaveses. Aí demonstrou o seu enorme potencial de sensibilidade criativa encenando, com poucos recursos, As Artimanhas de Scapan e o Auto da Barca do Inferno. Faleceu a 9 de Junho de 1999 quando estava prestes a concluir o noviciado no Mosteiro Beneditino de Singeverga.
Eu peneiro o espírito e crivo o ritmo
Do sangue no amor, o movimento para fora
O desabrigo completo. Peneiro os múltiplos
Sentidos da palavra que sopra a sua voz
Nos pulsos. Crivo a pulsação do canto
E encontro
O silêncio inigualável de quem escuta
(Faria 2003, 92)
"Daniel, o profeta, tinha visões nocturnas e era mestre inigualável na interpretação dos sonhos e na explicação dos enigmas… Embora não isenta de referências à cultura greco latina, esta poesia é intimamente tocada pelo texto bíblico, quer no tom de algumas composições de feição versicular, quer na glosa de episódios morais da Sagrada Escritura. Uma peça magnífica do livro Dos Líquidos concentra o máximo alumbramento do verbo e do verso, conjugando elevação e profundidade no mesmo sopro anímico… "(Vera Vouga)
Nasceu em 1982, em Tavira. É poeta e tradutor de poesia. Publicou Versos Nus (2007) e Polishop (2010). Traduziu poetas de língua espanhola como Rafael Camarasa, Aida Monteón e Santiago Aguaded Landero (vencedores do Prémio Internacional Palavra Ibérica). Representando em diversas antologias literárias em Portugal e no estrangeiro, tem-se dedicado aos workshops de escrita criativa. É advogado em Faro.
A dimensão do ser
medem-se os silêncios
como se fossem a liberdade de uma palvra
mede-se o invisível
como se fosse a densidade do que parece oculto
mede-se a complexidade do real
como se fosse a equação metafísica
sobre a ideia de deus;...
(Nené 2011, 30)
"O novo livro de Tiago Nené, logo no primeiro poema, e em jeito de nos transmitir o verdadeiro método de interpretar, firma o que irá ser o princípio estruturante de toda a obra: por um lado, os obstáculos do real na sua dualidade de acidentes na superfície da terra e de coisa a realçar: o relevo (a vontade do editor ) …; por outro lado, o modo de apreensão desse mesmo real, que não é a razão nem nenhum dos sentidos exteriores, mas sim o coração ... e, finalmente, o tempo, que nos surgirá numa multiplicidade de formas." (Vitor Oliveira Mateus ).
Nasceu em Lisboa em 1982. Desde a infância conheceu o fascínio pelo Teatro e pela Literatura, passando por vários cursos e ateliers criativos. Em 2005 concluiu o curso de Língua e Cultura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em Março de 2006 recebeu o Prémio Internacional de Poesia Castello di Duino, em Triste, Itália. Dedica actualmente grande parte do seu tempo a projectos ligados à escrita, com participação em alguns festivais internacionais de poesia e publicação em revistas literárias.
Já não me encontras ao sol
mas ainda posso ser ceifeira que cantava
se me visitares no álbum de folhas secas.
Os bailares já não são só o vento.
Tu já não entoas a espuma dos lagos o espelho
onde a orquestra se apaixonou pelo silêncio.
(Almeida 2008, 34)
O segundo livro de poesia de Catarina Nunes Almeida, 'A Metamorfose das Plantas dos Pés 'que a Deriva agora edita, é constituído por três capítulos. O primeiro, que dá o nome ao livro, seguido de 'Corpo Floresta' e 'A Descoberta do Fogo'. Poesia caleidoscópica onde se conjuga o mar, as montanhas, as nuvens de onde vemos a terra e os homens que a habitam e sempre as árvores e os ramos como se cada um de nós pretendesse fazer parte e as disputássemos por um lugar exequível. Uma poesia que é uma orquestra para os sentidos.
Nasceu no Porto em 1979. Formou-se em Jornalismo na Universidade de Westminster, em Londres, e concluiu o Mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde apresentou a dissertação sobre os Aspectos do cómico na poesia de Alexandre O'Neill, Adília Lopes e Jorge de Sousa Braga). Jornalista cultural, é de salientar a sua colaboração no suplemento das Artes, das Letras de O Primeiro de Janeiro, para o qual já entrevistou diversas figuras de destaque da literatura portuguesa e estrangeira. Recitadora e locutora, colabora regularmente com o Teatro do Campo Alegre, no ciclo Quintas de Leitura, e integra o colectivo poético Caixa Geral de Despojos. Participa nos Seminários de Tradução Colectiva de Poesia da Fundação da Casa de Mateus. Publicou Lua-Plaroid (ficção), 2003, Corpos Editora, e Talvez os lírios compreendam (poesia), 2004, Cadernos do Campo Alegre.
Ode Louca
Todos os homens têm o seu rio.
Lamentam-no sentados no interior das casas
de interior e como o poeta que escreve lápis
apagem a memória com a sua água.
O rios abandonam os homens que envelhecem
longe da infância, e eles choram
o reflexo absurdo na distância.
(Leal 2007, 20)
A poesia de Filipa Leal é inumana e luminosa e os seus poemas dão voz a um gesto de libertação individual em deriva constante. É nesse espaço que o traço aparentemente aleatório do voo de um pássaro se cruza, livre, com a arquitectura louca de uma cidade estranhamente "presa nas palavras". Desta ligação íntima, proposta ao leitor de 'A Cidade Líquida e Outras Texturas', emerge um sujeito cujo rosto se confunde com a própria rota que vai construindo. Um sujeito que recusa um qualquer destino comum e sedentário e se afirma no desenho límpido de uma geopoética de uma claridade absoluta.
Nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. Muito novo, escrevia já teatro, poesia e prosa poética. Na área do teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje quatro peças editadas, Silêncio e Os Vendilhões do Templo (2007), O segundo do fim e Os de sempre (2008). No âmbito da poesia, publicou dois livros: O cheiro da sombra das flores (2007), seleccionado de entre as melhores obras de poesia ibérica publicadas entre 2007 e 2008 pelo Prémio Correntes d' Escritas de 2009, e Luto lento (2008). Entre vários prémios, destacam-se o 1º lugar no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura 2009 (Brasil), categoria Poesia, e o Prémio Nuno Júdice 2009.
Sabes
sabes a dor não tens sabor
sabes à mão não tens coração
sabes o amor
não tens calor?
sabes a sal mas não tem mal
sabes as cores sem teres louvores
sabem o tempo certo mas nunca estás perto
sabes
as árvores tremem por ti
como a chuva quando ri...
(Negreiros 2012, 12)
0 amor é intemporal. Imagina um livro que celebra isso mesmo: a união, a beleza do encontro e a mágoa do desencontro que não é mais do que adiar a felicidade. Este livro reúne os poemas feitos à medida de todos nós. Nós que somos fortes por amor, fracos por amor, belos por amor, rudes por amor, loucos por amor e, quem sabe até, sábios por amor. Este livro exalta o amor. Se o acharem piegas é de propósito, se o acharem desgovernado é de propósito, se o acharem ridículo é de propósito, se o acharem genial é de propósito, se o acharem perfeito é sem querer. É a prenda justa para quem gostamos, é a prenda certa para quem gostaríamos de gostar, é a prenda exacta para quem ainda não conhecemos.
Nasceu em Lisboa em 1976. Escreve sobre poesia no Jornal de Letras e tem artigos publicados nas revistas Relâmpago e O Escritor. Como poeta estreou-se, em 1999, com Ritos de Passagem a que se seguiram Um Barco no Rio (2002), A Sombra no Limite (2004) e À Flor da Pele (2007). É ainda autor de um livro de crítica de poesia Nos Passos da Poesia (2005).
Poesia
Quando não esperas nada
não esperas nada
Quando não esperas nada
tudo acontece
Quando não esperas nada
o nada é certo
Quando não esperas nada
das leis do verso
(Cortez 2012, 39)
No poema 'Arte poética ou não' é-nos dado ler uma reflexão sobre o "signo extremado" que a poesia é, terminando essa reflexão, como veremos, por uma espécie de justificação do título que escolheu para o seu livro: "A poesia, se construída em verdade, produz novas formas de perceber as idades de que é feita, afinal, a nossa vida: metro, verso, estrofe, cadência, rítmica, corpo a corpo, combate entre vida e morte. Extremidades da linha de fogo."
Nasceu em Lisboa em 1978. É um poeta português da vaga dos anos noventa que se está a impôr na literatura moderna portuguesa a um ritmo assinalável de publicações. Começou por frequentar o curso de Economia acabando por trocá-lo pelo de Filosofia. Participou na colectânea de jovens criadores '99 mas a sua grande estreia e revelação viria a ser com a publicação de Um Mover de Mão (Assírio & Alvim, 2000), seguindo-se Imo em 2003 nas Edições Quasi e, no mesmo ano, Lucifer (Ed. Alexandria). Entretanto integrou a antologia da nova poesia portuguesa Anos 90 e Agora (Org. Jorge Reis-S, quasi, 2001) e traduziu a obra Noites de Atropelo de Mark Kozelek (edições Quasi, 2002).
A posição do silêncio
As pedras começam a cair,
desmoronam o lugar em que se assentava o coração,
com a idade a desfazer-se sem que possas acudir
a tua própria sombra soterrada, e uma última lembrança antes
de susteres a respiração.
(Gato 2003, 33)
Vasco Gato fala-nos de um lugar de figurações, tensões abstractas, ambiguidades, analogias, predomínio de um Eu impessoal sobre um Eu empírico. Tudo aí é significativo, recíproco, convertível, correspondente. Esta poesia afirma o primado da imagem metafórica.
Nasceu em 1972, no Vale de Santarém, Portugal. É um poeta, editor e crítico literário português. Vive em Lisboa desde 1990, tendo publicado o seu primeiro livro de poemas em 2000. Além de se dedicar à poesia, escreve sobre livros no Expresso e tem colaboração dispersa em várias revistas literárias portuguesas. Dirige a pequena editora Averno e é um dos directores da revista Telhados de Vidro, publicação da editora. Em 2002 organizou a antologia Poetas sem Qualidades, obra que acabaria por contribuir para uma acesa polémica sobre os caminhos da poesia portuguesa surgida nos últimos anos.
Grande Hotel de Paris, Quarto 312
Um amigo meu disse-me para nunca
meter gaivotas num poema.
O que seria fácil noutra cidade qualquer,
onde o ruído do seu voo não acompanhasse
tão de perto a minha insónia, a vaga
inquietação do teu corpo adormecido.
(Freitas 2012, 123)
A 'Última Porta' é o título escolhido para esta antologia poética de Manuel de Freitas, com selecção e posfácio a cargo de José Miguel Silva, que passa a integrar a "Grãos de Pólen", uma colecção de poesia escolhida por poetas da editora Assírio & Alvim.
Nasceu em Faro, em 1979. É um dos membros fundadores do Sulscrito, Círculo Literário do Algarve e faz parte da direcão editorial da revista de literatura Sulscrito. É autor do blog a pedra. Publicou poesia em algumas revistas de Portugal, Espanha e México e tem publicado no seu blog o conjunto inédito de textos rapaz-areia.
Urbanismo
ainda há cães que ladram a noite fora
de dentro de casas com pequenos quintais
onde alguém conseguiu pôr uma cadeira atravessada
uma mesa
conheço um sítio onde uma senhora rega
uma planta na rua
e outro onde não se estaciona no passeio
tenho um amigo que não tranca aporta de casa...
(Afonso 2012, 27)
'A mesma cantiga de sempre' é o segundo livro de poemas de Pedro Afonso.
Nasceu em Santarém, em 1979, e viveu em Almeirim. Vários poemas de Miguel-Manso são marcados por alusões muito específicas, e nem sempre identificáveis de imediato. As viagens estão muito presentes nos seus textos, e tanto podem ser cidades longínquas como aldeias portuguesas, sobre as quais escreveu aliás belos poemas. Miguel-Manso terminou o seu primeiro livro em Paris, onde viveu durante um mês.
Há um desenho em tudo, até no desenho.
O desenho do desenho do desenho não tem autor nem suporte nem gesto nem desenho.
É um desenho a desenhar-se sem consciência da consciência do desenho.
Desenhar invade o campo do aparente, onde o desenhar-desenhar é imperceptível.
Desenhar-desenhar-desenhar é ainda mais oculto, é o desenho a desenhar o indesenhável.
(Manso 2012, 42)
'Um Lugar a Menos' é composto por algumas dezenas de textos curtos, em prosa, parágrafos bem lapidados que estão mais perto da reflexão aforística do que do lirismo. O título é um trocadilho com o locus amoenus, tópico da literatura clássica, mas os lugares que aqui se revelam e questionam são os da própria escrita, na sua difícil tarefa de olhar pela janela "os vestígios do mundo" e esconjurar a paisagem. (Revista Ler, nº 113)
Nasceu no Porto, em 1973. É Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa com uma dissertação sobre o poeta inglês John Milton, de que resultou a tradução de Paraíso Perdido (Cotovia, 2006). Publicou quatro livros de poemas, entre os quais Os Fantasmas Inquilinos e Sonótono (Cotovia, 2005 e 2006). Traduziu Um Punhado de Pó, de Evelyn Waugh, e Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello. Prepara actualmente a tradução de Rebours, de Joris-Karl Huysmans, e uma selecção e tradução de poemas de William Wordsworth. Nenhures é a sua estreia na escrita para teatro.
Como um metalúrgico da Luísnava
Que uma musa metálica redime
E faz dum vulcão cama e os lençóis lava,
Soldo a métrica, malho p’ra que rime.
Toco a afiada lira, tanjo o meu aço,
Na homérica bigorna chispa e liça.
Silvam sereias, chamam-me ao regaço,
Ítaca estanca a dor, Ática atiça-a.
(Jonas 2007, 12)
"Já havia encontrado Daniel Jonas (1973) em 'Os Fantasmas Inquilinos' (Cotovia, 2005). A impressão que me causou foi maior. Agora, com 'Sonótono', este cuspidor do fogo das palavras, que sopra a Língua como quem desfaz dentes-de-leão, espalhando as suas sementes pelos ares, vê o seu trabalho justamente premiado, em conjunto com um poeta já consagrado." (Manuel Margarido)
Nasceu em 1977. Poeta, com oito livros de poesia publicados, dos quais se destacam Deste lado da morte ninguém responde (2005, reed. 2008), Zona de perda - livro de albas (2006), Angstrae (2010). Editou uma antologia da sua poesia, Material angústia (2010, com posfácio de Ludovic Heyraud), traduzida para alemão, croata, francês e japonês. Fundou em 2005 a Companhia do Eu, escola de Escrita Criativa, de que é diretor.
vinte de janeiro. fotografias vazias
havia uma vez as mãos do poema
seguravam os sonhos infantis
para que chegassem mais longe
davam vida por "veias incorruptas"
e se chamavam de longe
chegavam como se tivessem estado
desde o princípio do mundo
na sombra iluminada do grito...
(Lino 2005, 17)
"A essencialidade da poética de Pedro Sena-Lino ao formular um tempo que parece sempre destinado à morte constrói de modo eficaz a natureza total do corpo (substância carnal e espiritual). O seu livro 'Deste Lado da Morte Ninguém Responde' reforça um discurso percorrido por finitudes que nunca se desligam de retornos num jogo dialético carregado de inquietações." (Maria Augusta Silva)
Nasceu em 1972, no Porto. É licenciada em Medicina pela Universidade do Porto e especialista em Medicina Interna. É autora de 5 livros de poemas: Sombras de Noite (Elefante Editores, 2004), Circulação Transversa (Corpos Editora, 2005), A urgência das Palavras (Edições Ecopy, 2008), Luz Vertical (Edita-Me Editora, 2009) com prefácio de Pedro Abrunhosa e ilustrações de Miguel Ministro e Geografias Dispersas (Edita-Me Editora, 2011). Participou, também, nas antologias Poesia SMS (Elefante Editores, 2003), Os dias do Amor (Ministério dos Livros Editores, 2009), Divina Música - Antologia comemorativa dos 25 anos do Conservatório de Viseu, organizada por Amadeu Baptista e Só à noite os gatos são pardos (ambos de 2009)
Tão pouco
Sei tão pouco
dos poemas que te escrevo,
a palavra eriçada,
coberta de cinza na língua
que nao sabemos pronunciar
(Malheiro 2009, 56)
"Poeta inteira, ela própria vertical, infinita e remanescente, mostra-se finalmente como uma das mais surpreendentes novas vozes que se impõem no panorama da literatura nacional. Nada nela é concessão, arremesso ou veleidade. Muito próxima da condição de música, a sua escrita também nunca toca o chão. É volátil e latente, dissonante e convergente, sensual e etérea. A justapor aos substantivos, tudo na sua escrita é som, melopeia e resolução..." ( Pedro Abrunhosa).