Conversações com Dmitri e Outras Fantasias

Relógio D’Água, 1992
capa do livro

As últimas tardes de Setembro têm em toda a faixa mediterrânea qualquer coisa de equino, de mitológico. Parece que um cavalo nasce das labaredas penetrantes do golfo de Nápoles, e corre a toda a brida e em silêncio pelas planícies cultivadas; as nuvens escurassão como crinas donde se soltam respingos de escuma, e de vez em quando uma faísca branca rasga o horizonte, como um casco que fere uma calçada. Longamente, à ilharga desse ginete duma festiva liberdade, o crepúsculo se deixa arrastar. Todas as doçuras da alfazema, o cheiro de caril dos campos em que seca a forragem, elevam-se à garupa do cavalonascido do nocturno marde Nápoles, visível ainda talvez quando atravessa a região da Campânia e tornando-se alado, de jarretes azulados, ao deixar os vales de Sarno e a burguesa ruína de Pompeia.

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