“Como sobre um circo de naumaquia, o Porto ergue-se em anfiteatro sobre o Douro e reclina-se no seu leito de granito.”
Alexandre Herculano
“É o Douro, aflito num pesadelo, barrento e amarelo, em que se vê estrangulado pelas margens. Ah! Como elas sobem, com grande esforço, num suor frio de fontes, desenhando, em nocturnos traços de carvão, as altíssimas encostas do enorme e estranho Vale, essa ruga mais profunda da velha paisagem lusitana, escoando para o mar as suas lágrimas.”
Teixeira de Pascoaes
“Doiro, rio e região, é certamente a realidade mais séria que temos. Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho.”
Miguel Torga
“... o rio Douro, espraiado, descreve um enorme S em toda a extensão do vale, reluzindo entre rasgões de olivedos e de pomares, por detrás das ramas viçosas dos choupos e dos amieiros. Uma cortina de montanhas fecha o horizonte de todos os lados.”
Ramalho Ortigão
“Do Corgo para cima, é Alto Douro: chão de xisto esfarelado pelo ar, pelo calor.”
Antero Figueiredo
“A nossa direita, alarga-se o vale do rio; e à esquerda, rasga-se, em altos e abruptos montes, duma arquitectura morta e solitária. Como a primeira claridade matutina despontava daquela banda, a abertura lúgubre do vale definia-se, deixando adivinhar, para além duma próxima curva, os alcantis tormentosos do Alto Douro. E, por baixo da ponte, no escuro sonâmbulo das águas, alvejavam quiméricos tons de prata.”
Teixeira de Pascoaes
“Suor, rio, doçura.
De cachão em cachão,
O mosto vai correndo
No seu leito de pedra.”
Miguel Torga
“ O Douro tinha engrossado com a chuva de dois dias, e a rapidez da corrente era caudalosa. aproando ao ponto do cachão, formidável sorvedouro em que a onda referve e redemoinha vertiginosamente, o barco fez um corcovo, estalou, abriu de golpe e mergulhou no declive da catadupa.”
Camilo Castelo Branco
“...trata-se de um rio majestoso como não há outro. Eu vi-o em Zamora e não o reconheci; diz-se que as margens eram carregadas de pinheiros e daí o seu nome dum que quer dizer madeira. Mas entra em Portugal à má cara. Enovela o caudal sobre penhascos, muge e ressopra como um touro com molhelha de couro preto a subir uma calçada.”
Agustina Bessa-Luís
“É o Douro um rio de montanha que sulca abismos com declive tormentoso.”
Jaime Cortesão
“Se era triste ver as casas inundadas e as ruas intransitáveis, a não ser de barco, o que fazia correr grave risco os que se atreviam a ir aos barcos, ainda se tornou mais desolador, quando as águas deixaram as ruas e as portas das casas destruídas. Ficaram toneladas de lodo, não só nas ruas, como também nas casas e em cima dos móveis. (...) Quanta desolação, quantas lágrimas se derramaram dentro dessas casas e quanta miséria acarretada em tantas famílias!”
Actas do 1.º Congresso Internacional sobre o Rio Douro (1986). Revista Gaya.
“No dia 23, a enchente atingiu a sua culminância - 11 milhas por hora e à 1 h da tarde a distância entre o tabuleiro inferior da Ponte D. Luís e a água é de 80 cm. Por este motivo, foram tomadas providências no sentido de demolir o referido tabuleiro, com explosivos em caso de máxima necessidade.”
Actas do 1.º Congresso Internacional sobre o Rio Douro (1986).
Revista Gaya.
“A chalupa “Marques II”, cujas amarras também rebentaram, provocou grandes danos na Av. Diogo Leite, tendo mesmo destruído armazéns e barracões como por exemplo os quadros da Firma de Vinhos do Porto Sandeman e C.ia; aqui foram grandes os estragos, pois com a inundação, uma das grossas portas do edifÌcio foi arrombada e a água arrastou, rio abaixo, um grande número de pipas de vinho do Porto. Outras pipas ficaram a flutuar no meio do armazém, mesmo depois de terem reforçado os portões.”
Actas do 1.º Congresso Internacional sobre o Rio Douro (1986).
Revista Gaya.
O caudal do Rio Douro é muito irregular. No Verão, muitos dos pequenos afluentes do Douro não passam de fios de água. Alguns secam. Nos Invernos chuvosos, porém, as enxurradas descem a arastar tudo pelas vertentes. Os danos causados pelo rio correndo em fúria não têm conta. Até tempos recentes, a memória do Rio Douro foi marcada pelos episódios dramáticos das cheias, com efeitos na vivência das populações ribeirinhas.
“Ainda me faz calafrios pensar nesta cheia, pois a vivi e sofri, se não na carne, pelo menos na alma. (...) Era um aspecto tétrico olhar, cá de cima, para as ruas inundadas. Olhava-se para as pessoas e via-se o sofrimento estampado no rosto, não só pensando nos seus haveres perdidos, mas também na sua própria subsistência imediata.”
Actas do 1.º Congresso Internacional sobre o Rio Douro (1986). Revista Gaya.
Uma bacia hidrográfica é a área terrestre a partir da qual todas as águas fluem, através de uma sequência de ribeiros, rios e, eventualmente, lagos e aquíferos, para o mar, desembocando numa única foz, estuário ou delta. A bacia hidrográfica do Rio Douro é a maior da Península Ibérica, com um pouco mais de 97,6 milha-res de km2 (cerca de 18,7 em território português) de área superior às do Rio Ebro e do Rio Tejo. O Rio Douro, cuja nascente se situa na Serra de Urbión (Cordilheira Ibérica) a uma altitude de 1.700 metros, desenvolve-se ao longo de 597 quiló-metros em território espanhol, 122 quilómetros como curso de água de fronteira, e, já em Portugal, ao longo de 208 quilómetros até à foz. A superfície da bacia hidrográfica é alimentada por uma rede hipernervurada de pequenas linhas de água, ribeiras, subafluentes e afluentes que conduzem as águas ao rio principal, o Rio Douro.