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A complementar os dados académicos conservados no Arquivo da FEUP, apresentam-se testemunhos pessoais e do seu colega de curso, o Engº João António Ferreira Lamas, que os publicou num artigo de 1988. Trata-se de episódios da vida académica de Jorge de Sena, que pontuam a sua passagem pela FEUP, enquanto estudante de engenharia civil, e retratam o ambiente académico que se vivia no Porto de então.
“A minha formação Universitária, ainda que em outra esfera, não menos o foi - e mesmo me deu uma consciência técnica e um horror das falácias, que são das qualidades que me reconhecem (e também de certa petulância e de consciência, que irrita os amantes do vago e da "poesia").” (Lourenço, Sena and Sena 1991, 43)
Lourenço, Eduardo, Jorge de Sena, and Mécia de Sena. 1991. Correspondência: Eduardo Lourenço, Jorge de Sena. Biblioteca de autores portugueses. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda |
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Arquivo FEUP: Boletim de Inscrição no curso de Engenharia Civil, Novembro de 1940
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“Andava em regra com uma pasta de cabedal, numa mão, e, na outra, quase sempre que ia sozinho, um livro que ia lendo, mesmo na rua. Lia em todo o lado, mesmo nas aulas em que via que não valia a pena estar atento e, para cúmulo, nas de oficinas. Tínhamos aulas práticas de carpintaria e de serralharia. Ele, além de não ser dos mais dotados para tal tipo de actividades, quer quanto a habilidade, quer quanto a interesse, se tinha uma peça para limar ou serrar, por exemplo, fixava-a no torno da bancada, punha um livro por cima desta, aberto, e ia lendo à medida que procedia à operação necessária.” (Lamas 1988, 10) Lamas, João António Ferreira. 1988. “O Sena que eu conheci”. Ingenium: Revista da Ordem dos Engenheiros (Supplement). 17 (February): 2-12. |
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Arquivo FEUP: Boletim de Aproveitamento no curso de Engenharia Civil, 27 de Fevereiro de 1947
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“No final desse ano lectivo, lembraram-se de adoptar no Porto a velha praxe académica coimbrã da Queima das Fitas. Como entendíamos que isso constituía falta de imaginação criativa, nós, os que tínhamos ido de Lisboa e devíamos “botar fitas” e “queimar o grelo” resolvemos exteriorizar o nosso desacordo. Para tanto, comprámos folhas de papel plissado da cor da Faculdade (...) e cortámo-las depois da largura normal do papel higiénico em fitas compridíssimas. Pusemo-las numas pastas quaisquer e assim nos passeámos pelas zonas do centro e das mais acentuadamente académicas e pela própria Faculdade, em cuja escadaria se tirou uma fotografia, com o Director, Professores e Alunos, procurando nós uma evidência que permitiu que tais fitas ficassem para a posteridade.” (Lamas 1988, 10)
Lamas, João António Ferreira. 1988. “O Sena que eu conheci”. Ingenium: Revista da Ordem dos Engenheiros (Supplement). 17 (February): 2-12.
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Lamas 1988, 10: foto 3
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O Porto deixa marcas
“(...) Porto, cidade que amo tanto como a minha natal Lisboa, pois que nela passei, terminado o curso de Engenharia Civil, dos anos mais livres e também mais duros da minha vida. (...)” (Sena 1989, 17)
Sena, Jorge de. 1989. Poesia I. Lisboa: Edições 70.
“A passagem de Jorge de Sena pelo Porto foi decisiva, não só para o homem mas também para o escritor (…) Enfim, também não devemos esquecer o que o próprio Sena confessava que devia ao Porto - de onde, por sinal, era a família da sua mãe - muita da sua boa ou má experiência de vida; e que no Porto, "às vezes mais topicamente" do que parecia, tinham sido escritos muitos dos seus poemas.
A começar talvez por esse belissimo e pluri-emblemático "Metamorfose", que não podemos ler sem pensarmos nos Clérigos: "Para a minha alma eu queria uma torre como esta"...E teve-a.” (Saraiva 1988)
Saraiva, Arnaldo. “Jorge de Sena estudante e escritor no Porto”. Jornal de Notícias, February 14, 1988.
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